Nas últimas 24 horas, três grandes acontecimentos se destacaram:
o Google está voltando à disputa dos óculos inteligentes, os Estados Unidos podem revisar as regras de exportação de chips de IA para a China, e a Netflix propôs uma aquisição de 82,7 mil milhões de dólares que pode redefinir o equilíbrio de poder nos media globais. Seja em interfaces de hardware de próxima geração, na geopolítica da computação de IA ou na estrutura do ecossistema de conteúdos, o cenário está a mudar — e nenhuma dessas histórias está perto do seu desfecho final.

1. Google vai relançar o Google Glass e planeia óculos de IA para 2026 em parceria com fabricantes chineses
O Google anunciou que irá relançar o Google Glass com uma nova versão alimentada pelo seu modelo de geração de imagens Nano Banana, desenvolvida em parceria com fabricantes chineses e com lançamento previsto para 2026. Esta decisão coloca o Google em concorrência direta com a Meta e a Apple na corrida pela próxima geração de wearables de computação.
Comentário:
O regresso do Google aos óculos inteligentes é, no fundo, uma aposta de que wearables com IA serão a próxima grande camada de interação entre humanos e máquinas.
A Meta já demonstrou que dispositivos “leves, para uso diário, com o assistente de IA no centro” têm forte apelo junto dos consumidores, enquanto a Apple continua numa abordagem de alta imersão, preços elevados e ecossistema fechado. Para o Google, este regresso é ao mesmo tempo uma correção dos seus fracassos anteriores em hardware e uma forma de ancorar a Pesquisa e o Gemini na perceção do mundo real.
As perguntas centrais são:
O Google conseguirá quebrar a antiga “maldição” dos óculos de AR — vistos como “volumosos + pouco práticos” — ao priorizar o conforto de uso?
E as capacidades multimodais de compreensão de cena do Gemini conseguirão desbloquear um verdadeiro caso de uso “matador”, em que o utilizador “vê o mundo e obtém uma interpretação útil instantaneamente”?
As respostas só ficarão claras em 2026.
2. EUA consideram permitir que a Nvidia exporte chips H200 para a China com uma taxa de 25% por unidade
Relatos indicam que o governo dos EUA pode rever as políticas de controlo de exportações para permitir que a Nvidia envie chips de IA H200 para a China, impondo uma taxa de cerca de 25% por chip. No futuro, um modelo semelhante poderá ser aplicado também à Intel e à AMD.
Comentário:
Se for aprovada, esta mudança representará uma alteração significativa em relação a dois anos de fortes restrições. Desde abril de 2025, até mesmo modelos degradados como o H20 foram bloqueados, levando a quota de mercado da Nvidia na China a praticamente zero e obrigando Nvidia e AMD a registarem desvalorizações de ativos superiores a 6,3 mil milhões de dólares.
Uma política do tipo “pode vender, mas entregará 25% para o governo” funciona, na prática, como um “pedágio tecnológico” — longe do ideal, mas ainda assim bem melhor para os fabricantes de chips do que uma proibição total.
Em termos estratégicos, isto sinaliza uma passagem de um bloqueio generalizado para uma “abertura controlada + alavancagem económica”, usando tributação e mecanismos de aprovação para dirigir a distribuição global de capacidade computacional.
Apesar disso, permanecem várias incertezas:
As empresas chinesas vão continuar dispostas a comprar H200 em grandes volumes se o preço for artificialmente inflacionado?
E mesmo que as regras mudem no papel, o processo de aprovação não acabará por introduzir novos “obstáculos invisíveis”?
Isto não é o fim do jogo, mas sim o início de uma nova fase numa longa partida geopolítica em torno da computação de IA.
3. Netflix planeia usar IA para personalização e publicidade, e propõe aquisição de 82,7 mil milhões de dólares da Warner Bros., HBO e HBO Max
A Netflix anunciou uma integração mais profunda de IA nos seus sistemas de recomendação e publicidade e, ao mesmo tempo, propôs a aquisição dos estúdios de cinema e TV da Warner Bros., da HBO e da HBO Max por cerca de 82,7 mil milhões de dólares. O CEO da empresa afirmou estar “muito confiante” na aprovação regulatória e garantiu que não haverá reestruturações nem despedimentos nas divisões de produção da Warner Bros. Discovery.
Comentário:
O ponto crucial é que esta aquisição ainda é apenas uma proposta, não um negócio concluído. O sucesso depende inteiramente dos reguladores. Mesmo assim, já se trata de uma das tentativas de consolidação mais ambiciosas da história recente dos media.
A estratégia da Netflix é combinar distribuição orientada por IA com uma biblioteca de conteúdos muito mais ampla. Recomendação reforçada por IA e publicidade dinâmica podem aumentar o engagement e a monetização, enquanto modelos generativos e de conteúdo personalizado aproximam a Netflix de se tornar menos “apenas uma plataforma de streaming” e mais uma “empresa de algoritmos de orquestração de conteúdos”.
Se a operação for aprovada, a Netflix passará a controlar IPs icónicos como Batman, Harry Potter, Dune e The Last of Us — acelerando a transição de um modelo baseado em licenciamento para um modelo de conteúdos bloqueados num ecossistema e ampliando a sua vantagem competitiva a um nível sem precedentes.
Durante anos, a HBO Max foi vista como uma plataforma de “conteúdo de altíssima qualidade mas escala limitada”, enquanto a Netflix é “de enorme escala, mas com falta de exclusivos premium suficientes”. A combinação proposta tenta fundir estas duas forças de forma direta, aumentando a pressão competitiva sobre a Disney e a Apple TV+.
Os riscos, porém, são igualmente claros:
Como os reguladores vão encarar um acordo com potencial para alterar profundamente o equilíbrio de poder nos media globais?
O argumento da Netflix — “não vamos desmontar os estúdios da Warner, apenas reforçar a distribuição e a sinergia” — resistirá a um escrutínio antitrust rigoroso?
Isto não é apenas uma estratégia de crescimento; é também um teste ao limite da tolerância regulatória em relação a mega-consolidações no setor dos media.
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