Nas últimas 24 horas, três frentes dominaram o debate em IA: limites de governança corporativa, disputa por “portas de entrada” de distribuição e o endurecimento das regras do ecossistema de conteúdo. Uma decisão judicial reposiciona o debate sobre mega-incentivos por performance; a SoftBank reorganiza o balanço para comprar uma posição estratégica no ciclo de IA; o ChatGPT avança do “responder” para o “executar” em compras recorrentes; e o Google sinaliza tolerância menor a extração e redistribuição em escala industrial.

A Suprema Corte de Delaware reverteu a decisão de instância inferior e restaurou o plano de remuneração por metas de 2018, que dá a Musk direito de comprar ações com desconto, condicionado a marcos de performance.
Comentário:
Em 2024, a instância inferior anulou o plano por “injustiça procedimental”. A reversão amplia o espaço jurídico para remunerações de altíssima intensidade atreladas a metas. Mas a pergunta do mercado permanece: quando o incentivo é grande a ponto de afetar estrutura acionária e controle, independência do conselho, disclosure e devido processo estão realmente assegurados?
Musk de fato conduziu a Tesla de algo como US$ 50 bi para mais de US$ 1 tri em valor de mercado e teria cumprido 12 metas rigorosas, gerando retornos múltiplos aos acionistas.
Ainda assim, o caso é maior que uma vitória pessoal: ele re-clarifica fronteiras entre governança, poder acionário e o alcance da intervenção judicial.
A SoftBank busca levantar recursos com venda de ativos e manobras de balanço, com o objetivo de concluir, até o fim do ano, o compromisso de investir US$ 22,5 bi na OpenAI.
Comentário:
O movimento parece menos “retorno financeiro” e mais “posição de entrada” no novo ciclo industrial: modelos, distribuição, compute e ecossistema de aplicações. As ações relatadas incluem saída de NVIDIA (~US$ 5,83 bi), redução em T-Mobile (~US$ 9,17 bi), uso de ações da Arm como colateral para ampliar crédito, além de cortes e plano de IPO da PayPay.
Para empresas do tipo OpenAI, o maior risco/variável nos próximos anos pode não ser apenas tecnologia, mas custo de compute, supply chain e eficiência de monetização. Vender ativos “estáveis” para comprar ativos “em febre” é, em essência, um hedge contra ficar fora da próxima plataforma.
Desta vez, a aposta acerta?
DoorDash e OpenAI lançaram um fluxo em que o usuário pede sugestões de receita no ChatGPT, gera a lista de compras e, na etapa final, é direcionado ao app da DoorDash para pagamento.
Comentário:
Inspiração de receitas é um dos usos mais comuns do ChatGPT. Para a DoorDash, isso captura intenção alta: quem pede receita tende a estar próximo da compra, potencialmente convertendo melhor do que anúncios tradicionais, com menor custo de aquisição.
Para a OpenAI, é mais um teste de “IA orientada a tarefas” como mecanismo de monetização e distribuição—transformar conversa em transação em um cenário recorrente e de alta frequência.
Riscos: se a OpenAI integrar mais concorrentes, a vantagem de entrada da DoorDash se dilui. E o “salto obrigatório” para o app na hora do pagamento adiciona atrito, elevando abandono.
O Google processou a SerpApi alegando que a empresa realizou centenas de milhões de buscas falsas para obter conteúdo protegido e redistribuí-lo comercialmente em grande escala.
Comentário:
Não é apenas uma briga sobre scraping. O centro é “escala + intenção + monetização”: transformar o produto final de uma plataforma em matéria-prima gratuita para revenda.
A SerpApi se apresenta como ferramenta para desenvolvedores, estruturando resultados de busca via API para SEO e monitoramento de mercado. Na narrativa do Google, isso ataca o modelo de negócio e o controle do ecossistema.
Como o tribunal vai delimitar “ferramenta” versus “extração industrial”, e o papel de escala e finalidade, pode influenciar serviços de dados, mercado de scraping e as regras de redistribuição na era da IA.
Para ampliar o contexto, veja os principais acontecimentos das últimas 72 horas: