11 de dezembro de 2025 · Panorama de IA em 24 horas: Meta adota modelo fechado, Apple aposta em Apple Glasses + iPhone e Microsoft investe US$ 17,5 bilhões na Índia

Nas últimas 24 horas, três gigantes de tecnologia tomaram decisões que reposicionam suas estratégias de inteligência artificial em pontos diferentes da cadeia de valor:
a Meta está deixando de ser “campeã do open source” para se tornar uma gigante de IA cada vez mais fechada e comercial; a Apple está trocando o sonho de um headset de ficção científica por um caminho mais pragmático com “óculos + iPhone”; e a Microsoft está fazendo o seu maior investimento na Ásia para transformar a Índia em um hub de nuvem e infraestrutura de IA.
A seguir, o que realmente importa por trás das manchetes.


1. Meta deixa o papel de “bandeira do open source” e caminha para IA fechada, enquanto compra a Rivos por cerca de US$ 4 bilhões

A Meta está ajustando de forma profunda a sua estratégia de IA, migrando para um modelo bem mais fechado e orientado à monetização.
A empresa prepara o lançamento, na primavera do ano que vem, de um novo modelo fechado, treinado com o apoio de várias ferramentas e provedores de terceiros — incluindo o modelo Tongyi Qianwen (Qwen), da Alibaba.

Paralelamente, Meta e Intel travaram uma disputa intensa pela startup de chips de IA Rivos, o que praticamente dobrou a avaliação da empresa para cerca de US$ 4 bilhões. No fim, a Meta venceu a disputa. A Rivos desenvolve chips personalizados de IA e soluções de aceleração para data centers, posicionando-se como um componente-chave na camada mais profunda do stack de computação de próxima geração.

Comentário: A Meta parece estar completando a transição de “idealista do open source” para “gigante de IA totalmente comercial”.
Com a família de modelos Llama, a empresa chegou a ser vista como o principal contraponto à abordagem fechada de OpenAI e Google. Mas o Llama 4 não gerou o salto de mercado que muitos esperavam, e o grande ecossistema de desenvolvedores ainda não se converteu em poder comercial duradouro. Agora, a Meta contrata agressivamente, compra startups e, ao mesmo tempo, restringe o grau de abertura de seus modelos — um reconhecimento tácito de que “boa vontade open source e gratuidade” não sustentam uma guerra de IA na casa dos trilhões de dólares.

A aquisição da Rivos por US$ 4 bilhões é, na essência, uma disputa pelo controle da base do stack de IA: quem domina o próprio chip de IA tem mais chances de reduzir sua dependência da Nvidia na próxima fase. Mas é um jogo de alto risco: se a arquitetura der certo, vira fosso competitivo; se der errado, vira custo afundado de uma geração inteira de hardware. Para a comunidade open source, a questão prática é direta: se a Meta deixar de ser o “aliado amigável do código aberto”, quem assume o papel de âncora confiável para uma IA realmente aberta?


2. Apple Glasses: da fantasia de MR “sci-fi” ao caminho dos eletrônicos de consumo que realmente podem escalar

A Apple planeja lançar seus primeiros óculos inteligentes, os Apple Glasses, em 2026, com chegada ao mercado em 2027.
O produto é descrito como um acessório inteligente leve, sem capacidade plena de computação de forma independente. Parte do processamento será descarregada para o iPhone. Ao mesmo tempo, a Apple teria pausado o desenvolvimento da versão mais leve do Vision Pro (antes chamada internamente de Vision Air), redirecionando recursos de engenharia para o projeto Apple Glasses.

Comentário: Na prática, a Apple está admitindo que, na janela de 1–2 anos, é quase impossível construir um dispositivo que seja leve, confortável, tenha toda a computação embarcada, entregue experiência visual premium e ainda chegue ao mercado com um preço aceitável. Em vez de insistir num headset de MR pesado, caro e com casos de uso pouco claros para o grande público, a empresa prefere recuar um passo e apostar em uma forma de transição mais pragmática: “óculos + iPhone”.

Headsets de MR totalmente fechados dificilmente se tornarão dispositivos de consumo de massa no curto prazo. Já os Apple Glasses podem se apoiar diretamente em um ecossistema de 1,7 bilhão de dispositivos iOS ativos e numa App Store madura. Para o usuário, o formato físico muda, mas contas, apps e fluxos de trabalho continuam os mesmos — o atrito de adoção cai muito. Esse nível de integração ponta a ponta é exatamente o que Meta e Google têm dificuldade em replicar rapidamente.

O movimento da Apple parece menos uma retirada e mais um “reset estratégico”: sair do hardware de ficção científica e entregar um produto que realmente pode ser fabricado, precificado e distribuído em escala. Se os Apple Glasses conseguirem equilibrar conforto, funcionalidade e preço, a Apple pode abocanhar grande parte do mercado de “AR do dia a dia” antes que os rivais estejam prontos.


3. A aposta de US$ 17,5 bilhões da Microsoft na Índia: nuvem, computação e o laboratório do “friend-shoring”

A Microsoft anunciou que investirá US$ 17,5 bilhões na Índia nos próximos quatro anos, com foco em serviços de nuvem e infraestrutura de IA.
Trata-se do maior investimento da empresa na Ásia até hoje, cobrindo novos data centers, expansão de plataformas de nuvem, implantação de serviços de IA e iniciativas para fortalecer o ecossistema de desenvolvedores locais.

Comentário: Esse movimento é um grande e calculado sinal de aposta na Índia, tanto como economia digital quanto como peça geopolítica.
De um lado, o país combina uma população enorme com um vasto pool de engenheiros de software e já é a terceira maior economia digital do mundo. Não é apenas mercado consumidor: é também laboratório para implantação de modelos de IA, adoção de nuvem e formação de talentos. De outro lado, à medida que os EUA apertam o controle sobre chips avançados e serviços de nuvem voltados à China, a Índia vai sendo moldada como alternativa de “friend-shoring + novo motor de crescimento”.

A narrativa indiana de localização de dados e de “confiança nos dados” adiciona uma camada extra: idealmente, dados ficam no país, computação roda localmente e, a partir daí, serviços são exportados ao mundo. Ao despejar capital em infraestrutura local, a Microsoft não apenas se integra a essa história de soberania digital, como ajuda a defini-la.

Nada disso, porém, é livre de atrito. Confiabilidade de fornecimento de energia, custo de terras, processos de licenciamento, complexidade tributária e um quadro regulatório de tecnologia em constante evolução criam riscos de execução relevantes. Esses US$ 17,5 bilhões são, ao mesmo tempo, uma tentativa de garantir um polo de crescimento futuro e um teste ao vivo: o modelo de “nuvem + IA com sabor de soberania digital” consegue realmente escalar em mercados emergentes?


Para ampliar a visão e conectar os movimentos mais importantes das últimas 72 horas, vale conferir também estas duas análises recentes:

Se 2024 foi “o ano da corrida de modelos”, 2025 está rapidamente se tornando o ano do jogo de stack completo: modelos, chips, data centers, regulações e dispositivos do dia a dia começam a se entrelaçar. Os players que conseguirem controlar mais de uma dessas camadas são os que provavelmente continuarão relevantes daqui a cinco anos.

Autor: Nova ScriptHora de Criação: 2025-12-11 06:10:47
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